quinta-feira, 25 de abril de 2024

Crônicas de uma professora: Expectativa x realidade

 






Crônicas de uma professora.

Recém-formada, já havia vivido um tanto. Assim que saiu da faculdade com toda a bibliografia de uma nova pedagogia contemporânea, construtivista; Admirava a aprendizagem como se fosse um pássaro alçando voo dizia até que era um objeto em construção, tinha sonhos e ganâncias do que seria a educação. Esperava que fosse mais do que apenas dizer ao menino que B+A era “BA”, ou que se soma a unidade com unidade e dezena com dezena na montagem das operações matemáticas, queria mais que uma sala de aula, almejava uma sala de oportunidades onde todas as crianças fossem ouvidas e, além disso, que também pudessem chegar às vozes das famílias, queria fazer mais por aquele aluno que já sabia e muito mais por aquele em que as dificuldades o detinha do seu potencial. 


Leu Vygotsky, Wallon, gastou um terço do salário com livros, cuidava como se fosse os últimos livros do mundo, não queria que estragasse ou manchasse. Cuidado, era seu sobrenome. Criou histórias e conto de fadas, via a liberdade nas crianças para serem aquilo que sonhavam, poderiam escrever poemas, músicas e até piadas. “Todo talento deve ser valorizado”-ouviu isso de uma aluna, ainda que a mesma falasse com os olhos. Chegou o dia, estava arrumada como imaginava que uma professora deveria estar, roupas confortáveis e grandes doses de amor. Quando chegou ao local(escola) que seria mais sua casa do que a sua própria casa naquele ano deparou-se com a disciplina, 


-“Professora, olha o calendário!, “Já colocou o bilhete?”, “o aluno precisa apresentar resultado.” “A dificuldade da família dele não importa.”, “Professora, olha o prazo…”.

-Professora, professor,profe, pro…Já não conseguia mais ouvir a chamarem pelo nome de sua profissão. O construtivismo foi colocado de lado pelas paredes da escola, não importa a abordagem pedagógica, o sistema cobra. 


Deixou um pouco de lado os sonhos e ambição, não daria conta de tudo. Iria mergulhar na solidão. Mas fez promessas de não ceder ao senso comum, de alguma forma mágica ou pela fé continuava ali tentando todos os dias. Escrevia para desabafar, assim como seus alunos também queria criar, era artista. Aprendeu a se virar num mundo cheio de pontos e vírgulas, entretanto com poucas exclamações. 

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